O incômodo divórcio
Padre Zezinho
Aconteceu mais de dez vezes. Por isso penso ser hora de me pronunciar. Escrevi em 1974
uma canção chamada "Utopia". Correu mundo e já foi cantada em mais de 40 países. Quase não
há recanto do País onde não se cante. Nela, há uma frase final: "Se os pais amassem, o divórcio
não viria!". A palavra difícil é "divórcio". Há quem a modifique. Parece palavra dura demais para
alguns cantores, cantoras e editores!
A maioria dos cantores a canta, mas sei de uns 30 que se negam a cantá-la nos shows ou
gravações. Mudam minha letra para "tudo isso não viria", ou para "tanta crise não viria" ou ainda,
para "a distância não viria". Não sei os motivos, mas um deles me explicou que mudara a palavra
porque não gostaria de conflitar com os divorciados na gravadora onde trabalhava. Eles não a
divulgariam, porque quatro deles eram divorciados...
Reagi dizendo que então ele deveria compor a dele e não modificar a minha! Não componho
canções, nem para vender milhões de CDs, nem para agradar a todos os ouvidos, da mesma
forma que os Evangelhos não foram escritos apenas para agradar. Os autores dos Evangelhos
assumem a controvérsia. Deixam claro que Jesus propôs, em palavras claríssimas, que, com Ele,
a lei seria bem mais exigente (cf. Mt 19,3-12). A doutrina é dura. Cantar o que Jesus disse
parece-me dever do cantor cristão.
Se alguém quiser mensagem mais amena deve compor sua própria melodia e canção. No
meu caso, mesmo tendo grandes amigos e até familiares que se divorciaram, sei que há outras
formas de ser carinhoso e gentil com eles, sem modificar a doutrina da Igreja. Ser amigo não é
concordar em tudo! Meus amigos sabem disso! Eles também não concordam em tudo comigo,
por que haveria eu de concordar com eles em tudo?
Direito meu - O texto foi escrito para dizer que, se o casal se amasse ao ponto do sacrifício,
lutaria mais pelo seu casamento e, se ambos amassem a este ponto, fariam de tudo para não se
divorciar. Acontecer acontece, mas nossa sociedade tornou-se condescendente por demais na
questão do "estar bem!". Em alguns países alguém pode se divorciar em questão de dias ou de
horas!
Que a canção faz pensar, não restam dúvidas! Sei disso pelas cartas e e-mails que recebo.
Alguns textos são para ofender. A maioria, porém, é para agradecer pela canção que os levou a
repensar seu casamento. Jesus poderia ter abrandado a questão do divórcio. E Ele amava como
ninguém jamais amou! Se Ele, amoroso como era, não abrandou, não serei eu a abrandá-la.
Continuarei cantando que "se os pais amassem, o divórcio não viria". Quem quiser cantar minha
canção está proibido de mudar a letra! Em dois casos, os cantores retiraram a canção de seu
álbum. Direito deles, direito meu! Comunicar nem sempre rima com amenizar. Mudar o texto não
muda o contexto!
Fonte: Revista Família Cristã ano 77 – nº 906 – junho de 2011 p.56
O incômodo divórcio Padre Zezinho
